quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pelo retorno das sacolinhas

A manjadíssima frase de Voltaire até se aplica: "Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o seu direito de dizê-la".

Pois bem, lá vai: acho uma balela, uma mentira interesseira e uma palhaçada essa proibição de sacolas plásticas.

Ops, só no site Planeta Sustentável, onde cada um que se recusa a receber uma “sacolinha criminosa” dessas dá um clique, e, portanto, é um sujeito bacana, sustentável e engajado, há 5 milhões, 295 mil e 464 cliques, enquanto escrevo essa crônica. O errado, por conseguinte, sou eu!

Sou, porque a vida sem as sacolinhas está uma droga! 

Experimente comprar um pacote com quatro rolos de papel higiênico (começo pelo fim), um refrigerante de dois litros para as crianças, um saquinho de pães para a família, a quantidade de mortadela suficiente para recheá-los, um pacotinho de guardanapos, para acompanhar, um fio dental e uma pasta de dentes, para depois da refeição. Agora, sem nenhuma sacola, leve isso para casa.

Legal, né? Prático! Ah! A culpa é sua, que se esqueceu da sacola retornável? Use-a dez vezes, e você notará, se a compra acima for a habitual, um “cheirinho de mortadela” no fundo, uns naquinhos de pão, melecas de refrigerantes. Bem ali, junto com as bactérias.

Então compre outra, porque há sacolas retornáveis “para vender”. Bem, você terá que descartar a retornável “velha” e, então, pasme, o impacto ambiental será superior ao de dezenas das sacolinhas plásticas criminosas.

Nem quero entrar no mérito da pesquisa feita pelo Conselho Americano de Química, que demonstrou isso: “Uma sacola plástica reutilizável tem de ser reutilizada ao menos 100 vezes - e uma de tecido 131 vezes - para compensar seu impacto ambiental em relação a uma sacola plástica descartável”. A pesquisa foi bancada pelos produtores de sacolas plásticas.

Portanto, também não é justo discutirmos “com certeza absoluta”, os dados relativos às manchas plásticas que cobrem os oceanos, rios ou lixões, e que deverão “sobreviver” a milhares de anos, por culpa das sacolinhas infames.

Da mesma maneira, a campanha “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco”, lançada pela Apas, a Associação Paulista de Supermercados, que demonstra o consumo mensal de 2,5 bilhões de sacolinhas plásticas no estado, também deve ser lida com ceticismo e desconfiança. Quanto os supermercados economizarão deixando de bancar tudo isso?

Até agora (mas pode ser que aconteça), ninguém determinou a proibição da venda de carros porque eles causam acidentes, e fazem com que, no Brasil, a cada quinze minutos, uma pessoa morra.

Diante de exemplo tão grotesco, não seria o caso de multar (como acontece com os carros dirigidos imprudentemente) quem descartasse sacolinhas plásticas sem cuidados ou responsabilidades, ao invés de proibir a sua distribuição nos supermercados?

Sei que a medida seria igualmente polêmica, mas o que está ocorrendo é que estão cortando as nossas mãos para evitarmos que usemos anéis. Pelo rumo que as coisas estão tomando, proibirão o sexo, para evitar a superpopulação do planeta.

Poxa, ainda somos humanos racionais! Suscetíveis a reconhecer em eficazes campanhas de conscientização os malefícios que as sacolinhas plásticas podem causar se forem simplesmente lançadas no meio ambiente.

“Essa eu perdi!” Diz um criminoso ao ser preso. Ocorre que você, leitor, e eu não somos criminosos.

Por - Alaor Ignácio - jornalista e professor universitário

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