A cidade de São Paulo encaminha para a reciclagem apenas 1,4% das 15 mil toneladas de lixo domiciliar produzidas diariamente pelos seus 11 milhões de habitantes. Nada menos que 60% do lixo reciclável separado pelos moradores em suas casas é despejado nos aterros comuns. As concessionárias responsáveis pelo serviço de coleta seletiva justificam a ineficiência e a baixa abrangência dos serviços com a falta de espaço, de estrutura e de mão de obra nas centrais de reciclagem, locais onde devem, de acordo com normas municipais, entregar os resíduos. A cidade mais rica do País patina há décadas na gestão dos resíduos sólidos, o que agrava a degradação ambiental e causa significativas perdas econômicas. Estudo do Ipea, de 2010, estima em R$ 749 milhões anuais o desperdício provocado pelo despejo de 1 milhão de toneladas de papel, papelão, aço, alumínio, vidro e plástico em aterros da capital.
As 21 centrais de triagem operadas por cooperativas de catadores de lixo atuam no limite da sua capacidade. Conforme as concessionárias Loga e Ecourbis, por não ter onde despejar o lixo reciclável, caminhões usados na coleta e transporte desse tipo de material nem sequer deixam as garagens. Grande parte do resíduo reciclável separado pela população acaba, assim, recolhida como lixo comum. A Secretaria Municipal de Serviços estuda modificar a legislação que exige a entrega dos recicláveis apenas para as centrais operadas por aquelas cooperativas.
Há muito mais a estudar e a realizar para fazer avançar a coleta seletiva. O gasto per capita com serviços de limpeza urbana em São Paulo é de R$ 73,63, muito inferior ao de outras metrópoles, como Nova York (R$ 239,56), Cidade do México (R$ 632,32) e Tóquio (R$ 1.036,48). Dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) mostram que, em 2010, a Prefeitura investia R$ 60 milhões mensais para a coleta, transporte e aterramento do lixo. Para a coleta seletiva era destinado irrisório 0,001% desse montante.
De lá para cá, como pouca coisa mudou, os resultados continuam muito aquém da necessidade de uma capital com padrões de consumo próximos dos de países desenvolvidos. Basta dizer que, dos quase 300 caminhões usados na coleta do lixo em São Paulo, apenas 7% fazem o recolhimento de material reciclado.
Para melhorar a gestão dos resíduos sólidos, há promessas de sobra. As concessionárias dizem esperar o sinal verde da Prefeitura para investir. A Ecourbis e a Loga afirmam que 17 novas centrais de triagem estarão prontas em 2013 para desafogar o sistema e ampliar a capacidade da cidade de reciclar seu lixo. Segundo seus representantes, as causas do problema são o amadorismo e a ineficiência das cooperativas. A Prefeitura, por sua vez, pretende criar "uma porta alternativa" para que a coleta não seja desperdiçada. Como a corda arrebenta do lado mais fraco, concessionárias e governo municipal culpam os catadores.
O Programa de Coleta Seletiva Solidária da Prefeitura foi implantado em 2003 e tinha como diretriz a inclusão de organizações de catadores no gerenciamento das centrais de triagem de material reciclável. Em um ano, 15 centrais foram instaladas. O contrato de concessão dos serviços de coleta de lixo na cidade, de 2005, exigia a instalação de pelo menos 31 centrais, uma em cada subprefeitura, além da ampliação do número de postos de trabalho para que os demais grupos organizados de catadores fossem incorporados a essa rede. Em fins de 2009, longe de conseguir atingir a meta fixada, a Prefeitura fez nova promessa: a de instalar 51 centrais de triagem de recicláveis até o fim do ano passado.
Sete anos se passaram desde o início da administração Serra/Kassab, e apenas 21 centrais operam em São Paulo. Sobrecarregadas, não comportam mais material reciclável que, assim, deixa de ser recolhido. Enquanto promessas se repetem, o volume do lixo aumenta, os grupos de catadores não conveniados já chegam a cem (são 20 mil na cidade) e os resultados da gestão dos resíduos sólidos na cidade só pioram.
Via: O Estado de S.Paulo
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