A dependência energética em relação à gasolina e ao diesel está levando o planeta para o buraco com a mudança climática, mas há outros usos do petróleo que a civilização do século 21 não consegue dispensar. Plásticos, por exemplo. A não ser que os velhos micróbios que, por exemplo, já fazem etanol para mover carros aprendam truques novos”, disse Gonçalo Pereira, professor do Departamento de Genética e coordenador do Laboratório de Genômica e Expressão do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp
Não é difícil resumir a missão das formas de vida que estão sendo projetadas por Gonçalo Pereira e seus colegas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). O lema é transformar o petróleo em coisa do passado. "Vocês devem ter queimado uns dez dinossauros só para chegar aqui", brincou Pereira com a equipe de reportagem vinda de São Paulo, referindo-se ao uso de combustíveis fósseis -feitos à base de criaturas mortas há milhões de anos.
Um dos planos da equipe é "ensinar" micorganismos ou plantas a fabricar a unidade básica do polipropileno, molécula que é a base de embalagens plásticas, peças de automóveis e outros produtos. O objetivo da equipe é compartilhado com outros cientistas da área da biologia sintética, campo que prevê a criação de organismos para usos industriais, médicos ou agrícolas, por exemplo.
O objetivo de Pereira e companhia é um pouco mais modesto do que criar uma espécie nova do zero. Sem necessariamente montar um genoma ou uma célula completa, a ideia é combinar diversos genes que nunca caminham juntos na natureza para fazer com que o micróbio (ou planta) produza algo que nenhum ser vivo gerou até hoje: o propeno.
O propeno é uma molécula com três átomos de carbono e seis de hidrogênio. Ele é uma "letra" com a qual se constrói uma "palavra" química: o polipropileno. A palavra seria uma "gagueira", formada por várias unidades de propeno, repetidas e grudadas. Os químicos chamam essa "gagueira" de polímero -um plástico.
A tarefa da indústria ficaria resumida a "colar" os propenos para montar o plástico. "A gente quer que esse organismo sintético coma açúcar e produza propeno", resume o pesquisador. A indústria parece ter se interessado pelo desafio. A petroquímica Braskem, por exemplo, está investindo R$ 4,5 milhões no laboratório de Pereira entre 2009 e 2012.
O desafio de fazer a vida produzir algo que só pode ser extraído de combustíveis fósseis não intimida o cientista. "A gente sabe que uma proteína [cujo código está contido no DNA] tem regiões mais ou menos independentes, com funções específicas, os chamados domínios. A gente consegue construir uma proteína nova, combinando domínios, que faça uma coisa que a natureza não fez", afirma ele. Essa proteína poderia, por exemplo, picotar moléculas orgânicas até que elas virem o desejado propeno.
Fonte: Folha de S.Paulo
Reportagem: Reinaldo José Lopes
Nenhum comentário:
Postar um comentário