O governo do Estado de São Paulo e a Associação Paulista de Supermercados (Apas) anunciaram a celebração de um convênio pelo qual as sacolas plásticas seriam "voluntariamente" banidas desses estabelecimentos até o final do ano e substituídas por similares biodegradáveis a um custo de R$ 0,19 cada. Isso foi feito sem uma prévia consulta à população, aos especialistas ambientais e à indústria. Tal medida penalizará desnecessariamente o consumidor, eliminará milhares de empregos na cadeia produtiva dos plásticos - no Brasil, a fabricação de sacolas plásticas emprega diretamente 30 mil pessoas, 6 mil só no Estado de São Paulo - e interromperá um bem sucedido esforço da sociedade, de promover o consumo responsável das sacolas plásticas. O consumidor será ferido em seu direito de escolher a embalagem mais adequada a seus propósitos. A sacolinha plástica, além de acondicionar as compras com higiene, praticidade e segurança, é reutilizada, sobretudo, para o descarte seguro dos resíduos domésticos, evitando contaminações e preservando a saúde pública. A durabilidade dessas embalagens assegura um sem-número de reutilizações e, sendo 100% reciclável, pode ser transformada em novas sacolas ou outros produtos.
Estudo divulgado recentemente pela Agência do Meio Ambiente da Grã-Bretanha demonstrou que há menos emissão de gás carbônico no ciclo de vida das sacolas plásticas do que nas de algodão e de papel, utilizadas para transportar as compras nos supermercados da Inglaterra e do País de Gales. Note-se que aquelas sacolinhas plásticas são produzidas em condições de grande impacto ambiental na China, onde há queima de combustíveis fósseis, em especial de carvão mineral que representa mais que 80% do combustível empregado na produção de energia elétrica; e que são transportadas até o Reino Unido por uma distância de cerca de 15.000 km, acrescidas dos transportes terrestres naqueles dois países.
Portanto, as sacolas plásticas no Brasil têm um impacto ambiental comparativo ainda menor do que aquele encontrado pelos pesquisadores ingleses.
O convênio de banimento das sacolas plásticas no Estado de São Paulo escamoteia o problema central sobre toda essa questão, que é de educação. A indústria já está se educando para produzir sacolas mais resistentes, que acondicionem maior volume e peso de compras, reduzindo seu consumo. Boa parte dos supermercados também está educando clientes e empacotadores a apenas levarem as sacolas necessárias.
E os consumidores estão se educando a reutilizar e reciclar as sacolas. Esta, aliás, é a essência do Programa de Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, que conta com o apoio da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e de 5 das 10 maiores redes de supermercado do Brasil. Desde sua implementação em 2007 e até o fim deste ano ele já terá reduzido 26% do consumo daquelas embalagens, com perspectivas de superar os 30% em 2012. Estamos falando numa economia de mais de 4 bilhões de sacolas/ano.
O programa conta com o reconhecimento do Ministério do Meio Ambiente como um exemplo de sucesso.
Desenvolvido pela Plastivida, Instituto Nacional do Plástico e Associação Brasileira da indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis, ele está presente em oito capitais (São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Goiânia, Brasília, Rio de Janeiro, Recife e Florianópolis). No ano passado, essas entidades lançaram a Escola de Consumo Responsável, um projeto itinerante que tem levado os conceitos de utilização responsável e descarte adequado dessas embalagens para todo o País. Oferecer ao consumidor a "opção" de uma sacola biodegradável tem grandes limitações econômicas e ambientais. Primeiro, ela será cobrada (enquanto o preço da sacolinha plástica já está embutido nos custos dos supermercados). Segundo, ela somente se biodegradará se for levada a usinas de compostagem - que não existem no Brasil. E, terceiro, ela não é reciclável. Banir tudo o que é moderno e tem algum impacto ambiental equivaleria a retrocedermos na História, quando havia baixa qualidade e reduzida expectativa de vida. O que se requer é o consumo responsável não apenas das sacolas plásticas, mas da água, combustíveis etc., de forma que a população toda possa usufruir democraticamente dos benefícios da vida moderna. A responsabilidade compartilhada (governo, indústria, varejo e consumidores), aliada à educação e alicerçada por medidas que levem efetivamente em conta o impacto ambiental do ciclo de vida de cada produto - é o pacto que devemos assumir em conjunto.
Miguel Bahiense - Presidente da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos
Fonte: DCI
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