Sacolas plásticas viram bolsas e são vendidas em lojas sofisticadas. O papel é transformado em obras de arte e até móveis são feitos de papelão
É no fim de tarde, quando o comércio fecha as portas, que Maurício Antônio Rodrigues de 45 anos e catador de material reciclável há 20 anos, pega o carrinho e vai recolher das ruas; latinhas, garrafas pet, papelão e papeis usados. De carrinho cheio o destino dele é a Associação dos Catadores de Material Reaproveitável (Asmare) de Belo Horizonte. Lá, o material é separado pelos catadores e segue para a indústria, onde vai virar novas embalagens, ou é aproveitado nas oficinas de arte da própria associação. Sacolas plásticas viram bolsas e são vendidas em lojas sofisticadas. O papel é transformado em obras de arte e até móveis são feitos de papelão.
Mas nem sempre foi assim. Maurício Rodrigues conta que hoje as pessoas estão mais conscientes, reconhecem o papel dos catadores e sabem a importância da reciclagem. “Hoje minha vida melhorou bastante, principalmente minha cidadania. Eu também aprendi. Porque no passado eu trabalhava apenas por dinheiro. Hoje eu trabalho também pela população. Se a população não reconhece, o meio ambiente agradece.”
O sucesso de Maurício serviu de inspiração para Janete Ferreira. Aos 52 anos, ela decidiu procurar emprego. Foi até a associação e começou a trabalhar no dia seguinte. A tarefa de Janete é separar o material que chega das ruas. Com o trabalho, ela ganha cerca de R$ 500 por mês. “Já tem um ano e quatro meses. É da associação que eu tiro o meu sustento. É meu ganha-pão. Meu, do meu filho e do meu marido.”
Renda e cidadania – Ângela Andino, de 42 anos, também encontrou na reciclagem de materiais uma forma de emprego, geração de renda e cidadania. Ela disse que durante muitos anos esteve na rua, dependendo da boa vontade das pessoas para fazer coleta de material reciclável. Agora, ela se sente promovida. Trabalha num galpão organizado e tem um dinheiro certo no final do mês para o sustento dos dois filhos. “Ambos foram criados com esse dinheiro, com luta e dificuldade, mas sempre estudando. Deus me deu muita força para eles chegarem onde estão e me sinto feliz.”
Altivo de Castro, de 54 anos, tem uma história diferente da de Maurício, Janete e Ângela. Em 2002, resolveu buscar na arte uma forma de fazer bem à natureza e melhorar o orçamento doméstico. Com a mãe doente e sem poder sair de casa, decidiu comprar garrafas pet e transformá-las numa infinidade de objetos. As vassouras são a principal produção. Hoje, Altivo recebe encomendas de lojas de Belo Horizonte e região. Ele também faz flores, bolsas, cestos e até brinquedos pedagógicos. O trabalho é feito em parceria com catadores e empresas que promovem gincanas nas escolas para arrecadar material reciclável. Altivo pertence à associação dos artesãos do município de Raposos em Minas Gerais e trabalha com outros associados. “Nós combinamos de pagar as despesas da associação e, todo mês, o dinheiro que sobra é divido entre nós.”
O material produzido pelas associações de catadores está em exposição todo ano em Belo Horizonte durante o Festival Lixo e Cidadania. Em sua nona edição, reúne mais de 2 mil pessoas entre catadores e representantes do governo e da sociedade. Além do espaço para exposição e artesanato, o evento tem shows, oficinas, palestras, e discussão sobre o destino dos resíduos sólidos, a profissionalização dos catadores, o crescimento econômico e a preservação ambiental.
Fonte: MDS - Flávio Lemos
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