quarta-feira, 20 de abril de 2011

O pulo do gato

Artigo publicado no jornal Estado de Minas em 15 de abril de 2011. Leia na integra:

O PULO DO GATO

O que a maioria das donas de casa esperava já está ocorrendo: a salvação ecológica do mundo representada pe­la proibição do uso de sacolas de plás­tico nos supermercados. Há situações tão surrealistas, que não dá para en­tender onde é que as coisas vão parar. Terca-feira, fui cuidar da minha inten­dência doméstica, que, para simplifi­car, faço de dois em dois meses, pelo menos o grosso. A lista somou 342 itens, que, já de cara, significam uma complicação: como acondicionar tan­ta coisa nessas sacolinhas tão catitas e tão próprias para caber o pão do ca­fé da manhã e uma ou outra verdura do sacolào? Quando comecei a des­carregar as compras na esleirá Jó cai xa, me deu vontade de largar os três carrinhos cheios no supermercado e ir embora para casa. Ocorre que a lei começa a vigorar na segunda-feira. Mas o gerente do supermercado re­solveu cortar antecipadamente o for­necimento das sacolas, para quem es­tava fazendo compras. Só depois de um delicado bate-boca é que fui hon­rada com o fornecimento das assassi­nas do futuro da Terra. Não estou so­zinha nessa revolta. Cheguei ao jornal e recebi e-mail de uma leitora que es­tá com a mesma indignação.

"Como leitora assídua de sua colu­na, tenho visto a ajuda que dá às suas leitoras, que, como eu, se veem indig­nadas e impotentes com alguma si­tuação. Nunca vi nada tão absurdo co­mo essa lei. a forma que isso nos vem sendo imposto, e nossa boca calada com a alegação de que estaremos sen­do ecológicas' A primeira questão diz respeito ao descarte de lixo doméstico Muitas famílias, como eu, utilizam ou reutilizam as sacolas de supermerca­do com esse fim. Afirmo que, para a maioria, todo descarte pequeno de li­xo utiliza essa forma. Fácil de consta­tar, inclusive nas camadas mais po­bres, é esse o destino das mesmas, co­mo pude observar numa foto de um caminhão de lixo publicada no Estado de Minas.

E agora, é preciso pagar o preço ab­surdo das sacolas para lixo? Existem aí interesses financeiros em jogo? E quem não pode fazê-lo, agora passa a jogar o lixo na rua, desembalado? E se o que polui são plásticos de toda natu­reza, logo irão proibir pets de refrige­rantes. O que falta em educação e con­dição para o povo vamos suprir proi­bindo as sacolas plásticas? Além disso, tive a infeliz experiência ao ir a um su­permercado que adotava essa lei ante­cipadamente. Em primeiro lugar, é im­possível acomodar caixas no carrinho, se sua compra é maior. Assim, tive que pedir mais um carrinho e sozinha le-var os dois. Então, é fácil observar que caixa de papelão cheia, ou mesmo sa­cola retornável cheia, adquirem um peso, que para uma senhora de 60 anos, como eu, torna a compra impos­sível, já que não consigo colocá-la no carro ou carregá-la. Para muitas pes­soas, fazer uma compra de supermer­cado depende de carregar um a um, pacote de arroz, de açúcar, água sani­tária, carne, sabão em pó, todas as em­balagens maiores, que precisam estar em sacolas individuais para ser carre­gadas Se é impossível carregar e aco­modar as compras em caixas, pelo pe­so que adquirem, então é preciso ir ao supermercado levando 20,30 sacolas retornáveis para conseguir carregar itens de forma individual?

É um absurdo Por que o sacolão da esquina pode usar sacolas plásticas? E as lojas? Quem joga sacola plástica num bueiro, agora deixará de jogar outros equivalentes, adquiriu educa­ção por conta dessa proibição? E os su­permercados, já avaliaram o que isso significa? No dia de minha experiên­cia, tive que pedir a ajuda de um fun­cionário do supermercado, que pegou as caixas pesadas do carrinho e as co­locou no meu carro. Como eu, muitas senhoras estarão nessa situação, sem contar os que compram pequenos vo­lumes, que deverão sair com eles nas mãos. Quem fez essa lei com certeza não enxerga suas implicações práticas, o transtorno que acarreta, e o pouco que uma proibição como essa contri­bui para a causa em questão. Só pode­mos lamentar a novidade." •

3 comentários:

  1. Por causa do conforto que a humanidade quer, todos e até mesmo as gerações futuras vão ter que pagar com o sofrimento que os problemas ambientais vem sofrendo e vão causar!

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  2. O problema é que todo mundo gosta de proibir, coibir, repreender, mas achar uma solução... não vi até agora. Por enquanto vou utilizando as sacolas plásticas.

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  3. Estudamos o tema a quatro anos e concluímos que a educação ambiental e a consicientização para o consumo e descarte adequados é o melhor caminho para evitar que as sacolas plásticas deixem de ser jogadas no meio ambiente.
    Com o Programa de Qualidade e Consumo Consciente de Sacolas Plásticas já conseguimos a redução no desperdício em 3,9 bilhões de sacolas e continuamos atuando para aumentar esse volume e contribuir com a qualidade ambiental, sem que para isso sejam necessárias medidas restritivas e que oneram o consumidor.

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