Varejistas e fabricantes armazenam embalagens compactadas que servem de matéria-prima para arquitetura de interiores.
Um produto até recentemente pouco reciclado começa a ser objeto de uma estrutura de negócios em expansão: o isopor.
Empresas geradoras do material, usado em grande quantidade como embalagem protetora, como Carrefour, Grupo Pão de Açúcar, Walmart, Magazine Luiza, Casas Bahia, Mitsubishi, LG Eletronics, Renault, se associam a recicladoras e beneficiadoras para que o isopor reciclado seja utilizado na fabricação de rodapés, molduras, construção civil, ou volte para a cadeia produtiva.
Uma das maiores indústrias transformadoras desse material, tecnicamente chamado de EPS (poliestireno expandido), a Termotécnica, com sede em Joinville, espera reciclar 5 mil toneladas do produto este ano para abastecer suas seis fábricas em vários pontos do Brasil. É o dobro do que fazia no ano passado.
De acordo com o seu presidente, Albano Schmidt, mais do que ao aquecimento da economia, esse crescimento se deve à estruturação do processo. "Nos últimos três anos, nós nos organizamos de modo a entrar em contato com as empresas, coletar o material e reprocessar tudo", diz. "Agora estamos colhendo os frutos."
Logística complexa
Schmidt explica que a tecnologia para reciclagem do isopor não é difícil, o complicado é a logística. Como o hábito de reciclar o isopor é pouco difundido, foi necessário, no começo, fazer com que as cooperativas e as empresas colaborassem na coleta do material. "Tivemos de fazer parcerias e convencer os fabricantes a recuperar as embalagens e guardá-las para nos entregar", conta.
Ele acredita que a Política Nacional de Resíduos Sólidos fará com que os próprios varejistas instituam em suas lojas o sistema leva e traz.
Assim, ao fazerem as entregas os funcionários vão trazer de volta o isopor que protege o produto. Depois, caberá à Termotécnica buscar o material. Hoje, a empresa já atua próximo de suas plantas industriais onde é feita a compactação do material; e este ano está se estruturando para ampliar a captação no Rio de Janeiro e Nordeste.
Outra empresa catarinense, a Santa Luiza Molduras, associou o seu negócio à reciclagem do isopor. Para substituir a madeira, matéria-prima tradicional, ela encontrou uma fórmula de produzir madeira plástica em seus rodapés, frisos e outros tipos de adornos usados na arquitetura de interiores.
Hoje, a Santa Luzia trabalha com unidades de reciclagem em vários estados, emprestando máquinas para compactação de isopor às cooperativas e empresas parceiras, como a Proeco em São Paulo, só para reciclagem de diversos tipos de resíduos.
O uso dessas máquinas facilita o trabalho para os dois lados. Isso porque o isopor é feito 98% de ar e apenas 2% de plástico. O material descartado ocupa um espaço muito grande de armazenagem.
As máquinas de degasagem (processo que retira o gás embutido no isopor), permitem que ele seja moldado em forma de pequenos tarugos que são posteriormente moídos, extrusados (ficando em formato de uma fita cilíndrica), resfriados e segmentados de forma granulada. Só então são enviados para serem transformados em novos produtos plásticos.
"Emprestamos as máquinas em um sistema de comodato, treinamos mão de obra e vamos buscar o material", diz o gerente de logística da empresa, Renato Arlindo Sombrio. Ele calcula que a Santa Luzia recicla 200 toneladas do produto por mês.
"Poderíamos fazer mais, se as indústrias e a própria sociedade reservassem o material para reciclagem", diz Sombrio.
Para ele, falta uma campanha de informação na sociedade para esclarecer que o isopor é uma matéria-prima nobre para ser jogada nos aterros. O Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb) de São Paulo, por exemplo, incentiva a entrega desse material em Ecopontos.
Mas nem todo mundo sabe que pode dispor desse serviço e acaba jogando o isopor no lixo.
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